sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um Dart Amigo

                            Esta é uma postagem um pouco diferente das tantas outras que fiz até agora, e também das que estão por vir.  Quero escrever um pouco sobre um grande parceiro que tive, me acompanhou por longos 16 anos, que eu tenha conhecimento, um recorde de longevidade.
                             Ao certo, teria que escrever sobre este meu amigo, na próxima postagem. A desta, seria um Galaxie Landau, azul, 1979. Mas como este amigo apareceu justamente por causa do Galaxie, conto uma postagem antes. 
                             Nossa amizade começou no ano de 1992, logo após ele ter nascido. Com não mais de dois meses de vida, mais precisamente em maio daquele ano, nos conhecemos e dali em diante nosso convívio passou a ser diário.
                         Hoje, vejo que o significado daquele encontro para o meu crescimento espiritual, foi algo muito maior do que representou naquela época. Aquele momento em minha vida foi como ultrapassar uma grande barreira, quebrar o paradigma do meu ser, subir um degrau, sei lá como explicar. Algo muito bom para o meu "eu" começou a mudar! Mesmo que, na época, sem minha exata percepção do significado! Claro que tudo lentamente, quase imperceptível! Tudo isto, exatamente um ano após eu ter mudado para o endereço da minha quarta oficina.
                             Naquele ano, 1992, a minha oficina era muito agitada, por vezes, tinham serviços saindo pela ladrão. Clientes eram vários, de muitos lugares do estado do Rio Grande do Sul. A dificuldade em encontrar peças facilmente era enorme, em contra partida, a oferta de dodges se fazia enormemente. Então, foi uma época em que eu comprava todos, ou quase,  dodge's que aparecessem na minha frente, não interessando o seu estado, comprava pelas peças.  Época em que algumas poucas delas poderiam valer mais do que um carro inteiro. 
                             Lembro que o feriadão da Páscoa daquele ano tinha caído no final do mês de Março, de noites já bastante frias. Tinha, na semana anterior ao feriadão, recém comprado um Galaxie Landau para desmanchar. O carro funcionava perfeitamente, tinha um bom motor, contudo o Galaxie havia passado por uma péssima reforma e seu antigo dono se desgostou tanto do serviço que acabou vendendo logo em seguida. Mas esta história eu conto na próxima postagem. Eu o comprei apenas porque precisava do carburador Motorcraft para um cliente, loucura, hein?? 
                             Bom, no finalzinho da quinta-feira, quase início do feriadão de Páscoa, terminei e entreguei alguns carros que estavam na oficina, tranquei tudo e fui para casa tomar um banho. Mais tarde, naquela mesma noite, iria na famosa "colheita da marcela", fato este, que já relatei aqui no blog.
                             Assim foi feito, a noite transcorreu maravilhosa, muita diversão e nada de problema. Como cheguei em casa alta madrugada, fui dormir. No outro dia, ou seja , na sexta feira santa, não fui até a oficina. No sábado ao chegar lá, o Galaxie Landau que tinha comprado para tirar o carburador estava com o capô aberto!! Fui olhar e .... putz, roubaram o carburador!!! Na hora fiquei puto da cara, tinham levado a única peça que eu precisaria na semana seguinte!!
                                                Aí que entra o meu amigo!
                            Alguns dias antes, um criador de cachorros de raça havia me oferecido um filhote de Rootweiller, na época, por U$300,00. Hoje acho que é caro, mas naquela época ninguém, ou quase ninguém, falava nesta raça de cachorros. Fui até lá, olhei a ninhada e peguei um. De cara, olhei para ele e disse:"-Tu parece um Dart, e este vai ser teu nome". 
Aqui já com uns seis meses de vida, no escritório da minha oficina na rua Humberto Castelo Branco, 2344. Minha mulher Valquiria segurando.
                                Bom, levei ele direto a um veterinário e pedi que fizessem uma "revisão geral".  Foram feitas todas as vacinas que ele tinha direito, em seguida levei meu novo amigo para seu novo lar, minha oficina. Na minha cabeça da época, ele seria um empecilho aos larápios de plantão. E não me enganei.
                                Criei este cara como um membro da minha família. Durante todo o tempo da passagem de nossas vidas em comum, por muitas centenas de vezes ele me fez sorrir, por algumas, me fez sentir pena, por outras raiva e, por apenas uma vez, chorei por ele! Assim, sucessivamente, me proporcionava sentimentos que normalmente só são afins entre seres humanos! Enfim, os sentimentos que tive por ele foram os mais variados possíveis. Exatamente como sentimos , as vezes, por qualquer membro da nossa família.
                              Este sujeito, tenho hoje plena convicção , foi um dos responsáveis pelo meu crescimento espiritual, como homem ser humano! Digo isto, pois, até então, antes de ter tido a honra de compartilharmos uma boa parte de nossas vidas juntos, eu, havia sido criado desde a infância, na companhia de cachorros, gatos, passarinhos e uma infinidade de outros bichos. Mas nunca antes sentido o apego humano que um animal pode nos proporcionar. A partir dele, comecei lentamente, a ver o mundo animal com outros olhos. Minha adorada e estimada Polara, que tenho o enorme prazer da companhia hoje, deve a ele uma grande parcela deste sentimento paternal incondicional que sinto por ela.
                                Bueno, conforme ele foi crescendo, também foi impondo seu respeito a todos que iam até minha oficina. Entre os meus clientes e amigos, também ele fez vários amigos, que ate nos dias de hoje perguntam. Houve uma época em que todas as quintas feiras à noite saia um churrasco lá na oficina. O Dart passava o tempo todo do evento amarrado em uma corrente, ao lado da sua casinha. Durante o churrasco, todo mundo, enquanto degustava um pedaço, dava outro para o Dart. Ele comia como um louco nas quintas. Acho até que nas quartas ele já sabia: "amanhã é dia de churrasco"!
Foto tirada no mesmo dia da anterior, no escritório da minha oficina
Nesta época, ele já era adulto, tinha uma cara de poucos amigo, mas era só a cara! Foi um grande companheiro que vivenciou uma boa parte da minha vida.
                             O tempo foi passando, nós dois ficando cada vez mais velhos, e amigos. Nunca mais notei que faltasse uma peça sequer em meu estoque. O amigo Dart me acompanhou e presenciou várias coisa junto comigo. Entre estas tantas, muitos dodges, conversas com amigos, conquistas, alegrias, angustias, tristezas, dinheiro, falta de dinheiro, e, também, a época penosa do guincho. Esta em que quase foi morto por assaltantes. "- Passamos trabalho naquela época, em meu velho??" 
                                 Enfim, tudo que se passou comigo, ele sempre ali, calado e ativo. Sempre louco por um carinho e um afago. O cara que formatou a frase "O cachorro é o melhor amigo do homem" estava coberto de razão, não tem outro igual.
                                 Certa vez, eu parado na frente da oficina, portão fechado,  o Dart pelo lado de dentro da cerca, praticamente escorado nela para ficar perto de mim,  de repente, um péssimo elemento parou ao meu lalo e largou um pérola "negativa", disse ele: "Se eu quiser, eu entro aí e mato este cachorro"!! Aquela frase, naquele momento,  foi tão inusitado que pensei ser um pesadelo!! Mas minha resposta a ele foi tão instantânea que ate mesmo eu me impressionei tempos depois!! Disse ao sujeito, quase imediatamente após sua afirmação: -"Não criei este cachorro para pegar ladrões, portanto, tu não precisas querer matá-lo para entrar aí. Quem vai te pegar se tu entrar aí sou eu, tu precisas ter medo é de mim, não dele! E outra coisa, se nos próximos meses esta oficina for arrombada, não interessa que foi, para mim foi tu. Então te cuida malandro!!" O sujeito me deu as costas e saiu fedendo!! 
                                 Anos depois, quando mudei para o endereço no centro da cidade, não pude traze-lo junto comigo, pois lá, já tinha um outro cachorro, da raça Fila (Magnum I). Então minha irmã Anelise, ficou com ele. O destino lhe foi tão generoso, que não poderia ter ganho um lar melhor. Até na cama ele dormia!! Foi tratado com pão-de-ló e mingau até o fim.
Minha sobrinha Marina coordenando a matilha. Da esquerda para a direita: Brenda, Duque, Dart. Foto tirada em Abril de 2004.
                                 No verão do ano 2008, no mês de fevereiro, dia de um calor insuportável, foi a vez em que, assim como agora, escrevendo estas linhas, colocou lágrimas em meus olhos. Digo com certeza e propriedade, sem sobra de dúvidas, naquele momento o melhor Dart que tive na vida, se foi!
                               Já estava quase cego, as patas traseiras quase não mexia mais. Morreu sem dar um gemido. Naquele dia, simplesmente se recolheu ao fundo de sua casinha e de lá não saiu mais.
                               O destino quis , que quem o achasse no seu último cantinho, momentos antes de sua morte, fosse eu! Dia de muita tristeza para mim. Foi um verdadeiro guerreiro! Por muitas vezes me protegeu sem ao menos pedir algo em troca. Muito mais que um cachorro, por inúmeras vezes, foi humano! 
                                 Meu amigo DART, dedico estas poucas linhas em tua homenagem!

                                 Na próxima postagem conto sobre o Galaxie Landau 1979 Azul 

sábado, 30 de novembro de 2013

Ford Galaxie Landau 1982 Azul

                     

                         Na primeira metade dos anos noventa eu tinha praticamente tudo em peças do dodge, raras foram as vezes em que um cliente saiu sem levar o que precisava. Assim como não deixava cliente algum sem peças, também eu não precisava nada para meus dodges! Entretanto, as vendas já não eram mais tão boas como nos anos oitenta, os clientes de outrora, com poder aquisitivo maior, eram raros. A grande maioria já os tinham vendido e comprado carros mais novos.
                         Mas como diz o ditado: "Quando fecha-se uma porta, automaticamente abre-se outra". E a nova porta, naquele momento, eram os Galaxies! Paralelamente a diminuição dos bons clientes de dodge, com potencial, apareciam semanalmente novos com Galaxies. Estes, ainda na época, um filão à ser explorado imediatamente.
                         Comecei então uma caçada as peças destes carros, assim como carros inteiros para serem desmanchados. Naquela época foi tarefa fácil, muito mais do que dodges, os Galaxies eram abundantes em qualquer lugar. Se comprava carros razoavelmente bons, rodando, por preços irrisórios.
                         Alguns dias após ter comprado os dois Ford que narrei na postagem passada, recebi a visita de um amigo na antiga oficina. Entre assuntos diversos, me contou que tinha estado alguns dias antes em um casamento na cidade de Porto Alegre. Antes do início da cerimônia, resolveu caminhar pelos arredores da igreja, e, em instantes, ficou surpreso com o que viu! No fundo do terreno da mesma, um Galaxie Landau abandonado. Ainda comentou com sua companheira na época,"será do padre"?? Mas irrelevante para ele, assim como para a grande maioria da sociedade na época , acabou esquecendo e voltou para dentro da igreja.
                          Eu, semanas após, ao saber da história, pensei, quando fosse à Porto Alegre novamente, o que era semanalmente, daria uma passada lá para ver o carro e tomar ciência do fato.
                         Alguns dias depois estava eu em frente  a igreja, olhei da calçada, nada se via! Ao lado tinha uma passagem de carro que mais parecia uma trilha, mas sem que pudesse acessar visualmente o fundo do terreno. Como não tinha ninguém, igreja toda fechada, cautelosamente entrei e fui em direção aos fundos. Após percorrer toda trilha, seguindo o trilho do carro, cheguei ao final da construção e pude vislumbrar a viatura.
                         O carro estava encoberto com uma lona, com a placa tapada e chaveado. Me aproximei,  puxei o canto da lona, a fim de destapá-lo, pelo menos em parte, para que eu pudesse vê-lo. Até então não notei nada de estranho, achei ate normal, pois ninguém iria deixar um carro bom, ao ar livre, sofrendo ação do tempo e aberto.
                          Continuei minha investigação, e, para meu espanto, percebi que se tratava de um excelente carro! Apesar de estar muito mofado por baixo da lona, aparentando claramente estar ali por muitos meses, a pintura do carro mostrava estar ali um carro original! Estofamentos novos, cromados perfeitos, pelo que pude ver, por dentro seu estado era impecável. Neste momento eu já "trocava as orelhas"!! Como pode um carro assim estar abandonado?? Então, analisando os fatos, já ponderava a possibilidade de que o grande automóvel pudesse estar ali escondido, e não guardado!! E o mais intrigante, mais estranho,  estar ao fundo de uma igreja!!
                          Continuei então a analisar o carro externamente, seguia levantando em pequenas partes a lona que o cobria. Cada vez mais ficava impressionado e também intrigado, sem imaginar que o mais surpreendente estaria por vir.  Quando destapo a parte traseira e olho a placa do carro, quase caio duro!! Município : Taquara - RS. Caiu a casa!!! O que este carro estaria fazendo lá??  Minha cabeça não parava mais de pensar nas probabilidades em que aquilo pudesse acontecer.
                          Bom, naquele instante eu tinha só uma certeza, queria descobrir de quem era aquele carro e como foi parar naquele local. Tapei o carro novamente e sai a procura do padre. Só ele poderia ter e dar respostas as minhas indagações.
                          Ao lado do prédio da igreja havia uma casa, pensei, provavelmente seja a casa canônica. Bati na porta e em instantes um guri me atendeu, ao certo um coroinha! Lhe perguntei pelo padre e este logo foi chama-lo. Veio o mesmo e perguntou-me: "Confissão??" Eu lhe respondi: "Não! Muito pelo contrário, eu preciso de uma confissão sua!!" Ele arregalou os olhos e para quebrar o gelo comecei a rir.
                          Depois de um pequeno bate papo e apresentações, lhe fiz a pergunta que não calava em minha consciência: "Padre, poderia me dizer se este galaxie que está aí ao fundo é seu?? Se não, poderia me dizer de quem é?? É que sou da cidade de Taquara, trabalho com peças destes carros e gostaria de compra-lo. E coincidentemente ele também é de Taquara, fiquei curioso!! "
                         Ele foi solícito e logo me explicou alguns detalhes do carro. De imediato disse que não era dele, mas sim, de um "fiel" de sua igreja. Este, como não tinha espaço para guarda-lo, lhe pediu o canto por algum tempo. Como expliquei que tinha interesse na compra, ele passou o nome e endereço do "proprietário".
                          Instantes depois estava eu rumando ao endereço passado pelo sacerdote católico. Ao chegar no destino, encontrei uma oficina mecânica, a qual, já havia eu estado antes, comprando peças de Galaxie. No momento me ocorreu uma confusão mental!! Na bendita oficina havia lugares sobrando para o galaxie ser guardado, porque o homem pediu ao padre um local??
                          Entrei na oficina e logo lembrei da fisionomia do homem atendendo no balcão. Claro, já havia estado lá antes. Após poucas palavras lhe perguntei a respeito do galaxie do fundo da igreja.  O sujeito fez cara de espanto imediatamente! Me respondeu com outra pergunta: "Porque quer saber?? Quem tu é?? Perguntou ele em um tom de voz seco e arrogante!
                          Naquele momento pensei, "tem caroço neste angu"!! Para não levantar desconfiança naquele homem, me fiz passar pelo meu amigo, o que esteve no casamento um tempo antes. Lhe expliquei que estive na igreja em um casamento e vi o Galaxie, posteriormente perguntei ao padre e ele me deu o endereço. Simples assim!! Ainda desconfiado, perguntou-me de onde eu era, lhe disse que da cidade mesmo ( Porto Alegre) Se falasse que era de Taquara acho que seria corrido a bala do local!
                           Muito a contra gosto e sem dar explicações contundentes, ele disse que o carro não estava à venda, era "seu", e o motor estava na oficina sendo retificado. Assim que tivesse tempo disponível iria re-colocar o motor e vender o carro. Nada mais disse e praticamente me mandou embora.
                          Naquele momento, ao sair da oficina, tinha comigo apenas uma certeza: " Havia algo bem errado com o Landau azul!" Mas nada mais havia  ali que eu pudesse fazer, e, muito menos em Porto Alegre. Minhas investigações agora seguiriam em Taquara.
                            Por dias e dias tentei descobrir quem haveria de ser o verdadeiro proprietário daquele carro, perguntei para quase todos os habitantes da cidade e nada. Ninguém sabia o histórico do galaxie misterioso da igreja.
                           Mas, como o destino conspira por caminhos misteriosos, a verdade veio a mim, posta em uma bandeja. Tinha um cliente aqui da cidade, hoje falecido, fabricante de piscinas e muito rico. Ele, assim como eu, era também apaixonado  por galaxie! Este tinha um casal de filhos, sendo que a filha era casada. Ela e o genro trabalhavam com ele no negócio das piscinas.
                           Em uma das tantas visitas que me fez na oficina, não perguntem porque, lhe contei toda a história do galaxie da igreja. Este, olhou para mim e disse impressionado: Eu conheço este carro!!! Foi meu um tempo e depois passei para meu genro!!  Onde está este carro??? Me perguntou!! Contei-lhe detalhadamente toda a história, sem deixar de narrar uma vírgula! Ele, a cada palavra minha, cada detalhe que contava, ficava mais impressionado! Apenas murmurava e rangia os dentes. Após terminar de lhe falar o que sabia, pedi que me contasse a história toda.
                           Vou me abster dos impropérios ao qual meu cliente retratou o dono da oficina em Porto Alegre, mas a coisa era feia! Começou dizendo que se tratava de caso do polícia!!
                           O relato foi mais ou menos assim:
                           Logo que recebeu o Landau do sogro, o genro, constatando  que o mesmo queimava um pouco de óleo, resolveu reformar o motor. Então como ele (genro) era natural de Porto Alegre, entrou em contato com alguns amigos que lhe informaram a bendita oficina, sendo como especializada em Galaxie! Dias depois o carro foi enviado aquela cidade para reforma geral do motor.
                           Segundo contou meu cliente, foi acertado um preço e também estipulado prazo para realizar serviço. Sendo que 50% do pagamento seria na entrada do veículo e o restante quando fosse retirar. Meses depois, após exaustivas visitas ao local a fim da retirada do carro, com motor refeito, o mesmo não estava pronto.
                           Das inúmeras  alegações da oficina, primeiramente, foi quanto a dificuldade em conseguir algumas peças. Posteriormente, após esta alternativa não ter minimo fundamento, o bendito mecânico alegou falta de tempo por acúmulo de serviço. E assim foram passando dias, semanas e meses, sem que o trabalho fosse concluído. Por fim, depois de esgotadas todas as possibilidades amistosas por parte do contratante, este tentou retirar o carro, mesmo com o motor desmanchado. Ou seja, resgatar o galaxie  sem reforma do motor e leva-lo a outra oficina para o término do serviço.
                           Quando esta possibilidade foi proposta  pelo genro do meu cliente, o mesmo foi severamente aviltado pelo dono da oficina! Usando a alegação de que estava esperando a entrada do dinheiro proposto no início!!! Só assim o mecânico daria andamento na reforma. Se instaurou um grande bate boca, quase levando as vias de fato! Resultando assim, depois disto, o dono da oficina lhe disse que naquele momento só iria dar seguimento no serviço, ou mesmo entregar o carro nas condições em que estava,  após receber toda a quantia, antes mesmo da entrega do carro!!  Ou seja, o dono da oficina estava cobrando por duas vezes a primeira parcela da reforma, juntamente com a segunda parcela combinada!!                                   Seguiu-se a isto  uma grande discussão entre as dua partes, ocasionando promessas de questões judiciais por ambas! De um lado sendo cobrada a totalidade do pagamento e de outro a conclusão e entrega de serviço realizada.
                            Segundo meu cliente, por diversas vezes houve tentativas frustradas da retirada do carro, ate mesmo abrindo mão dos 50% pagos na entrada. Por duas vezes foi mandado guincho à Porto Alegre e em nenhuma delas o mesmo voltou com o carro.
                            Para piorar ainda mais a pendenga, na última vez que o genro do meu cliente esteve na oficina tentando um acerto para retirada do carro, o dono da oficina negou a existência do carro!! Dizendo que não o conhecia e nunca tinha sequer visto tal carro, assim como as várias pessoas do guincho que estiveram lá para a retirada do mesmo.  Esta foi a história passada a mim pelo dono do carro! Para mim, coerente, pelo simples fato de que o carro tivera sido escondido.
                            O que aconteceu realmente eu não sei, mas o que posso afirmar de concreto é que o dono da oficina escondeu o Landau nos fundos da igreja. Dizendo para mim mesmo como testemunha, primeiramente que o carro era dele, depois alegava desconhece-lo.
                           Meu cliente,  após esta narrativa dos fatos lá na minha oficina, foi embora dizendo que iria resolver a pendenga a sua maneira.
                            Passados mais ou menos um mês, recebi uma ligação do genro do meu cliente, oferecendo o carro. Fiquei animado, disse a ele que tinha interesse na compra, mas não sabia como desenrolar aquela trama toda. Na mesma hora ele disse que o carro estava em Taquara , nos fundos da fábrica de piscina, se eu quisesse poderia ir ate lá e fecharíamos negócio. Assim fiz e comprei o carro, sem motor.
                           Meses depois, um pouco antes do meu cliente falecer, em uma conversa na minha oficina, me contou que após saber do paradeiro do carro por mim relatado, mandou um guincho à Porto Alegre! Este, levando consigo e de posse dos documentos do Landau, foi ao pátio da igreja e carregou o carro. Em que circunstâncias este fato teve desdobramentos, não sei, mas o carro veia à Taquara e nunca mais saiu daqui.    
                           Está aí uma foto do mesmo, no canto direito
             
                         Este para-lamas foi o que sobrou atualmente do Galaxie



                           Na próxima postagem, um Dart Amigo

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Galaxie Landau 1979 azul - Galaxie LTD 1977 marrom

                                                    Esta postagem é à pedido.
                           Por mais que as pessoas tentem imaginar a relação que tive, e tenho até hoje, com os dodges durante os trinta e poucos anos que passaram, acho improvável, e, até mesmo impossível, que alguém vislumbre a real dimensão disto na minha existência.
                         Durante este tempo todo, que pode até ser considerado por muitos um ciclo da vida, quando paro e peso a co-relação Dodge(automóvel) e Peças Dodge (Mopar), a gangorra despenca e se torna infinitamente desproporcional!! Mesmo quando  imagino o tanto de carros que passaram por mim, inclusive os de clientes, as peças, tiveram um peso muito maior, alem do imaginável!
                            Quando ponho a cabeça para funcionar, e tem de ser muito para escrever aqui, e começo a lembrar do que passou entre as minhas mãos, me dá um misto de alegria, saudade e até tristeza! Digo isto pelo que foi a abundância nos anos passados. Exemplo não raro é quando hoje estou fazendo algum serviço qualquer e preciso de um parafuso, seja ele qual for, vou a procura deles em diversos vidros, baldes e latas que os coloquei no passado. Ali nestes recipientes, assim como parafusos diversos, ainda dormem verdadeiras preciosidades (para mim) em termos de dodge.
                           Conforme vou catando os parafusos que preciso, sem pensar, automaticamente vou separando alguns que por ventura vão aparecendo, aos quais, sei exatamente os seus lugares de origem no dodge. Isto é automático, sem pensar, minha mente age como se fosse um robô! Pode parecer engraçado, ou até mesmo doentio, mas é exatamente assim que eu faço. No final, acabo encontrando dezenas de parafusos do dodge, antes mesmo dos quais eu realmente preciso. Ocasionando um trabalho extra de limpa-los,  cataloga-los e posteriormente guarda-los. Que no final se torna um... exaustivo prazer!!






                              Toquei neste assunto fútil dos parafusos para que vocês consigam entender, de um modo simples, o que quero realmente dizer. Hoje, eu guardo tudo, tudo mesmo do dodge! No passado, a coisa era tão desvairada e absurda, que muitas e muitas coisas boas foram descartadas, até como lixo!! Houve uma época que somente tinha valor algumas peças do carro, acho que assim deve ser hoje em um ferro-velho normal, quase tudo vai fora. Só o que interessava eram algumas peças, muitos acabamentos como frisos principalmente, foram literalmente jogados fora.
                            Exemplo gritante disto aconteceu entre meados dos anos oitenta e os de noventa. Eu joguei muita coisa fora, principalmente nas mudanças de endereço da oficina. Uma vez, que lembro bem, foi quando precisava esvaziar um dos meus depósitos, na época falei com um amigo que trabalhava com sucata, ele foi até lá e olhou a quantidade de coisas que tinha para levar, se apavorou!!! Me disse que não tinha como levar, então me passou o telefone da siderúrgica  que ele revendia para que eu vendesse direto.
                            Assim foi feito, a empresa passou um dia inteiro carregando peças, ferragens, carcaças de carros e muito mais!! Coisa que agora eu nem gosto de lembrar. Ao final daquele dia, tudo pesado na balança, foram 16 toneladas de sucata!!! Sucata na época, hoje, ouro!! Naquela vez, se não me falhar a memória, somente de monoblocos de Charger, foram 7!! Darts mais um tanto, Galaxies uns 3 ou 4 e um Maverick V8. Meu Deus!!
                            E apesar de tudo isto, mesmo as peças sendo desordenadamente vendidas a quilo, ainda sobravam milhares de coisas. Na época existiam peças invendáveis, que, inclusive os lixeiros não levavam!! Algumas, por estarem em perfeito estado, fiquei com pena de colocar fora, outras dei de presente para desocupar lugar. Pensando nos dias atuais, o troço foi fenomenal, e ao mesmo tempo assombroso!!
                           Na metade dos anos noventa a palavra, ou melhor, o nome Dodge, significava quase nada, era um bem desprezível para quase totalidade das pessoas. As minhas peças poderiam ser consideradas quase lixo. Na verdade valiam exatamente o quanto pesavam, em quilo!! Inúmeras foram as pessoas que me achavam louco, outras indagavam incrédulas de o porque de guarda-las!! Muitos não acreditavam como eu conseguia dar conta dos meus encargos, e não estavam errados!! Minha liquidez financeira era péssima!! Mal e mal conseguia pagar as contas.
                           Mas, quase sempre nadando contra a correnteza e contra a opinião de todos, assim mesmo, guardei alguma coisa, não tem explicação coerente para isto que não o destino!
                          Aí, naturalmente, aconteceu uma coisa que hoje não sei se me mato, dou risada ou choro, foram as múltiplas utilidades que encontrei  para algumas das benditas peças. Como não valiam nada e também não era nada fácil vende-las, acabei achando destinos engraçados para várias delas. Algumas adaptei em outros carros, outras fiz coisas (bem) diferentes.
                            Que lembro agora, por exemplo:  
                            Polias do motor viraram pés de abajur - Eixos cardan que viraram cambão para rebocar carro (e como rebocou este cambão) -  Capô de Dart que virou mesa - Barras de torção da suspensão dianteira viraram divisórias da churrasqueira para colocar espetos -  Travessas do chassi do galaxie viraram vigas de paredes ( Minha irmã Anelise tem dois chassi de Galaxie dentro das paredes na casa dela.) - Diferencial de Dodge completo, virou eixo de reboque -  Feixe de molas traseiro, reboque também - Tecido dos bancos do Magnum, viraram chaise ou chesi, não sei ao certo, e sei lá quantas coisas mais eu fiz com peças de Dodge e Galaxie








Ainda hoje o reboque da esquerda tem diferencial completo, inclusive caixa satélite com coroa pinhão

                            E assim por diante, várias foram as utilidades encontradas na época. Loucura?? Hoje acho que sim, mas no passado o lixo virou utensílio doméstico, e até de construção! Por isto dou tanta importância para elas nos dias atuais, coloquei muita coisa fora, mas muito do que sobrou foi a duras penas. Tenho quase certeza de que outra pessoa não teria guardado nada!  
                                       
                        Vinte anos atrás, tinha um cliente que a tempos tinha um Landau 79 para restaurar, claro, estou falando no início dos anos 90. O carro foi comprado por ele naquela época em estado digamos ruim, por um preço irrisório. Este cliente, desde que o tinha comprado nunca havia dado sequer uma volta, o Landau estava parado em um galpão a alguns anos, aguardando a hora de ser reformado. Neste tempo todo em que o galaxie estava parado, este senhor e eu mantínhamos tratativas na restauração do carro.  Mas o tempo foi passando e acabamos por nunca chegar a um consenso, principalmente em vista do preço que eu lhe havia pedido para a realização de tal serviço.
                      Durante um bom tempo, este cliente comprou peças e mais peças de reposição do galaxie, inclusive minhas, as quais posteriormente iria usar quando chegasse a hora da reforma do carro. Comprava e guardava tudo em uma garagem, queria que quando iniciasse a reforma, não precisasse comprar muita coisa.
                      No decorrer deste tempo, entre muitas coisas, vendi a ele uma frente inteira de um galaxie. Para-lamas dianteiros, três portas, para-choques, frisos e mais uma infinidade de coisas.
                      Chegado o dia que resolveu iniciar o serviço, e como não nos acertamos no preço da reforma, ele contratou os serviços de uma outra oficina e levou o galaxie para lá. Nos meses em que o carro estava sendo feito, o meu cliente seguidamente vinha até minha oficina para pegar algumas peças e me contar como o serviço andava.
                 Durante as periódicas visitas que me fazia, meu cliente perguntava certas coisas. Vim a saber mais tarde, que ele estava descontente com o andamento do serviço. Perguntava coisas básicas para tentar entender se o funileiro que tinha contratado estava no caminho certo. Acreditem, eu sempre saindo pela tangente. Afinal, ninguém gosta que outros falem da gente, ou questionem o nosso serviço. Então, sempre procurei me abster de certos comentários. Para piorar as coisas, algum tempo depois fiquei sabendo que esta oficina que meu cliente havia contratado, era de um cunhado seu.
                       Passaram-se meses,  mais de um ano, e o carro não ficava pronto. O meu cliente estava para lá de desgostoso. Chegando ao ponto dele vir na oficina só para falar mal do cunhado e dizer que se arrependimento matasse, ele estaria morto. Que quem deveria ter feito o serviço, era eu. Eu, modéstia a parte, tentava apaziguar o ânimo dele, nunca fui de colocar "mais fogo em lenha seca". Até porque, se eu falasse coisas que não deveria, poderia sobrar para mim. Sabem como é! Eu falo de outra pessoa para alguém, este alguém vai lá e diz que eu falei dele, e tudo vira uma bagunça! Tô fora!
                        Bom, resumindo a história, passados quase dois anos depois de iniciada a reforma do galaxie, meu cliente retirou o carro da oficina do cunhado. O primeiro lugar em que ele foi com o carro "pronto", foi na minha oficina. Fiquei de boca aberta com a qualidade da reforma, sem dizer muita coisa, mas horrorizado!! Teria sido muito melhor se o landau não tivesse sido restaurado. Como estava antes, estava melhor. Não precisei dizer nada disto para meu cliente, porque qualquer pessoa, por mais leiga que seja, via o péssimo serviço. O carro tinha ficado um lixo!
                         Bueno, era visível o descontentamento do meu cliente. Passado mais um tempo, um ou dois meses, ele retornou a minha oficina oferecendo o landau. Tinha se desgostado a tal ponto, que queria me dar o carro pelo preço que fosse. Acabei comprando o galaxie pelo mesmo valor que meu cliente tinha pago três anos antes, sem correção ou ágio algum. De lambuja, comprei outro galaxie, um LTD, que ele havia comprado um ano antes para tirar peças para o landau. Portanto, comprei os dois galaxies.
                       Acreditem, o LTD, que era para tirar peças, era mais bonito que o landau reformado. Por isto eu digo sempre, as vezes um carro original bem surrado, é muito mais inteiro e bonito que um mau reformado.
                           Procurei agora à tarde lá no meu depósito de latarias se achava algum resto mortal destes dois falecidos, achei apenas um pára-lamas. Como não tirei fotos deles, fica em branco. Segue algumas que tirei hoje.












                          Na próxima postagem Landau 1982 Azul claro

sábado, 21 de setembro de 2013

Dodge Gran Sedan 1977 Branco Valência

                      Minha vida hoje tem uma rotina diária quase cronológica, principalmente agora que trouxe uma parte das minhas tranqueiras aqui para casa! Salvo em um caso excepcional, na parte da manhã não saio mais de casa, almoço ao meio dia e em seguida tiro uma pestana. Na parte da tarde vou ao correio postar minhas vendas, saindo dali vou direto para o café na casa dos meus pais, este sim, é obrigatório, todos os dias, eu adoro e não troco por outro programa!
                      Nesta semana que passou, durante um destes cafés, não lembro bem como, mas o assunto que entrou em "pauta" remeteu ao dia 03/05/1986, foi um sábado de muito sol, que jamais esquecerei!   
                     Naquela época eu também tinha uma rotina, mas muito diferente da de hoje. Passava a semana toda trabalhando, estudando e... saindo todas as noites, sem exceção, com os amigos. Era uma vida folgada, apesar da chatice obrigatória de ir à faculdade!! 
                      Bom, apesar de tudo de chato que o dia apresentava, logo que caía a noite, o prazer da companhia dos amigos vinha como um elixir da felicidade. Por mais que eu possa rir e me divertir nos dias de hoje, jamais chegará aos pés daquela época. Barrigadas de risos adolescentes! Pensando hoje, aquilo era surreal! Na época era corriqueiro e tão comum que não parava para pensar que um dia aquilo tudo iria acabar. A vida de cada um de nós, seguiria um rumo diferente, cada amigo seguiria um destino alheio ao outro, teriam suas próprias famílias, seus filhos, suas esposas e mesmo que para melhor, ou pior, tudo muito diferente.
                         As vezes eu pergunto a mim mesmo: Como aquela turma se aturava todas as noites?? E sempre com novidades para contar um ao outro?? É inexplicável!!! Era como um casamento de várias pessoas, que trabalhavam o dia e se encontravam à noite, e pior, ou melhor, sem brigas! Só, e, exclusivamente, parceria e alegria! Provavelmente o céu seja assim!  
                        Bom, naquela semana, durante um dos encontros noturnos, combinamos de todos irmos à praia de Xangri-lá no sábado, vejam bem, para jogar taco na beira de praia! Que coisa absurda!! Eu como sempre andava pela "bola 8" em casa, não confirmei que iria. Por mais que eu tentasse andar na "regra", e achava que andava, meu pai não achava!! Portanto, apesar de fazer exatamente o que eu queria e tivesse vontade, eu tinha certas limitações!! kkkk Até porque eu morava na casa deles, e sem dúvida, tinha que seguir as regras, ou ao menos tentar. Talvez se meu pai não tivesse agido assim comigo naquela época, eu não estaria aqui escrevendo hoje.   
                            A semana foi seguindo e eles (meus amigos) fazendo planos para o final de semana, eu só escutando e me mordendo de vontade de ir junto. Eles contando certo da minha ida nem tocavam no assunto. Na sexta à noite afirmei para eles que não iria na manhã seguinte, a coisa tava pesada lá em casa!! Tinha prometido para o meu pai que ajudaria ele em certos afazeres e não "poderia" negar! Todos caíram de pau em cima de mim: "Tu vai, tu vai...! Mas não tinha como, 
                             Todo sábado de manhã minha rotina era ir ao centro da cidade, e naquele, não foi diferente. Fui e encontrei alguns conhecidos, conversa vai, conversa vem, me perguntaram: "Cadê tua turma??"Contei à eles que aquela hora meus amigos já deveria estar na beira do mar, jogando taco e dando muita risada!! Um destes "animais" que estava comigo naquele momento disse: "Vamos prá lá?? Eu disse, não posso!! Tenho certas coisa por fazer que são importantes."
                                Um pouco depois fui para casa, chegando lá só encontrei minha irmã mais nova e perguntei por nossos pais.  Tinham saído e só voltariam à tarde!! Pensei... vou pra praia jogar taco!!!! Voltei ao centro, re-encontrei o camarada e falei, vamos!!! Partimos rumo a felicidade!!
                               Cerca de duas horas depois estávamos todos na beira da praia, o jogo rolando e as conversas fluindo normalmente. O dia passou e lá por volta das 16hr disse ao pessoal que tinha de voltar. Lembro como se fosse hoje, eles clamaram, veementemente, para que eu ficasse lá e voltasse no domingo com eles. Eu só pensando nas consequências, saí sem avisar, e dormir fora de casa?? Impossível!! 
                                Mas, certos ou não, meus amigos estavam cobertos de razão, explico porque: A nossa turma toda, não bebia, não fumava, por mais que possa não parecer, eramos todos ótimas pessoas. Apenas queríamos  nos divertir sem compromisso ou responsabilidade alguma. Em contra partida, o sujeito que tinha me levado, ou seja, que fui de carona até Xangri-lá, era um tomador de trago ao extremo!!! Bebia como uma esponja! E naquele momento já era visível sua embriaguez. Meus amigos, temendo pela minha integridade, pediam para que eu ficasse. Eu não podia ficar.
                                   Segui viajem de volta! Na saída da cidade, o elemento parou o Passat eu que nós estávamos em frente um bar, desceu, e em seguida voltou com uma sacola onde tinham umas dez garrafas de cerveja. Eu, muito cabeça oca na época, não falei nada! Ao invés de pedir a direção e voltar tranqüilo, deixei ele dirigir. 
                               Bom , a viagem foi tensa, ele tomando aquelas cervejas no bico!! Após a garrafa estar seca, atirava-as  pela janela!!!!! Isto não podia terminar bem... e não terminou!!
                                Quando chegamos na divisa de Osório com Santo Antônio da Patrulha, em uma reta, apenas separadas por aclives contrários, ou seja, nós subindo de um lado, um caminhão subindo de outro, em sentido contrário, inevitavelmente nos cruzaríamos sem problemas. Tudo seria normal se um bendito Chevette não estivesse ultrapassando o caminhão, ou melhor tentando ultrapassar o caminhão! Deu a lógica!! No topo da lomba o encontro foi inevitável!!!
                                 Meu companheiro na direção, cheio de trago, não teve perícia, reflexo, ou seja lá o que for, para desviar nosso carro para o acostamento. Daria tudo certo, não fosse o maldito trago! O estouro foi grande!! Lembro nitidamente o ocorrido. Eu não acreditei na batida até que aconteceu, era um dia quente, estava com meu braço para fora da janela no momento do impacto, e sem cinto! 
                         Resultado?? Voei como um foguete em direção ao pára-brisa, o Húmero do meu braço direito foi estilhaçado pela ventarola e coluna do teto do Passat, minha cabeça quebrou o pára-brisa e não voei para fora do carro porque meu braço segurou!! Que momento!!! Após o impacto lembro nitidamente minha tentativa de sair do carro, quando tentei usar minha mão direita para abrir a porta, ela não respondia. Daí percebi, entre o sangue que jorrava da minha cabeça, meu braço destruído!!
                            Usei minha mão esquerda para acionar o trinco da porta e com o pé chutei ela para poder sair. Neste exato momento apareceu um senhor, agricultor, que roçava uma terra ao lado do acidente. Ele olhou para mim muito assustado, eu ao olhar para ele perguntei: "Como estão meus dentes?? Não sinto nada!!" Ele respondeu: Não sei, só vejo sangue aí dentro, mas não te preocupas, está tudo bem!!"
                            Naquela hora pensei que tinha quebrado todos eles, pois passava a língua pela boca e sentia  muitos caroços, aos quais achei, fossem meus dentes, todos quebrados, mas na verdade eram cacos de vidro!!! Imediatamente encostou um carro ao nosso lado, um Monza, eu acho, não lembro, tinha uma família dentro. O homem na direção desceu, me segurou, pediu que a esposa sentasse no banco de trás com suas crianças, e me conduziu ao banco do carona. Só lembro dele dizer, vem amigo, vou te levar para o hospital. Minha cabeça não parava de sangrar, literalmente jorrava sangue!! Disse à ele, não!! O teu carro vai ficar encharcado de sangue!!! Ele nada respondeu e eu sentei no carro. Lembro que imediatamente coloquei minha cabeça entre as pernas para que o sangue caísse apenas dentro do tapete, e assim foi até chegarmos ao hospital de Santo Antônio da Patrulha. 
                              Em frente ao hospital, antes de descer, olhei o tapete do carro, tinha muito, mas muito sangue. Meus tênis estavam vermelhos, encobertos!! Desci do carro quando já vinha uma enfermeira empurrando uma cadeira de rodas, à qual logo sentei. Olhei para o homem e agradeci: Muito obrigado!! Nunca mais vi esta pessoa, nunca tive a chance de rever este HOMEM, agradecer de uma forma correta o que fez por mim! Talvez ele ou algum familiar leia o que estou escrevendo agora , quero lhe dizer que minha gratidão é, e será eterna!!
                             Fui atendido por um médico plantonista, um castelhano, pois falava engraçado. Me deitaram em uma maca, me entupiram de injeções, até na testa, imobilizaram meu braço e costuraram todo meu rosto! Depois disto feito, me deixaram sozinho em uma sala, fria e escura! Pavoroso!! Algum tempo depois apareceu o médico me perguntando como estava, respondi que bem, só que com muita dor. Implorei à ele para engessar meu braço e me mandar pra casa!!! Ele respondeu, com naturalidade: SÓ DEPOIS DA FACA!!! Quase tive um troço!! Pensei, tá tudo perdido!!! Que vou dizer ao meu pai????????
                                 Algum tempo depois, não sei quanto, apareceram lá minha irmã Anelise e meu cunhado Ronaldo, me olharam e suas caras de espanto eram visíveis!! Perguntei pelo pai, minha irmã disse: Tá aí fora, apavorado!!!! Chorei naquela hora!
                                 Uma hora depois fui transferido daquele hospital para o de Taquara. Lá fiquei por exatos sete dias, saindo no sábado seguinte. Saldo da história, uma placa de platina de 12cm  no Húmero, 6 parafusos, 12 pontos no braço e 72 no rosto, e por incrível que pareça, todos os dentes!!. Mas voltei para casa, onde não devia ter saído no sábado anterior.  Obrigado pai, por tudo e ... desculpe... por tudo!

                                 Alguns dia atrás procurando algumas peças no enorme depósito que tenho na casa do meu pai, achei uma caixa toda empoeirada, dentro, cheio de manuais de proprietário!!  Estes, não tenho a minima ideia de como e quando eu os coloquei lá. Folhando alguns, achei interessante o lugar de onde alguns saíram, até de bem longe daqui. Trouxe tudo pra cá e coloquei junto à outros que já tinha aqui. Segue algumas fotos de alguns deles.












                     Este Gran Sedan da postagem da hoje, não sei se cheguei a andar com ele mais do que algumas voltas. Comprei, quase por obrigação, de um sujeito da cidade de Parobé. Comprei para desmanchar, mas no fim ele acabou ficando por anos no pátio da casa do meu pai. No fim não piquei e vendi para outra pessoa Me admiro até que tirei fotos.







                     O preço?? Tenho aqui anotado: data da compra 01/08/1992, valor $1.000.000,00 (Um milhão ( de cruzeiros??) = US$ 215,00
                        Na próxima postagem Galaxie Landau 1979 azul e Galaxie LTD 1976 marrom, comprados juntos, do mesmo dono no mesmo dia!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Dodge Dart DeLuxo 1974 Bronze Brilhante

                  Em uma escaldante tarde de domingo, de um longínquo verão, mais precisamente do final da década de 70, dois bons amigos sentados em um pequeno muro que ficava em frente a casa de um deles, conversavam assuntos variados. Relevantes apenas a mentalidade da gurizada da época. Ou seja, as incontáveis chatices do colégio, algumas desejadas gurias da época e... Dodges! Que na época não eram carros velhos, muito menos antigos, mas sim, novos!
                   Como todos sabem,  as tardes de domingo nas pequenas cidades geralmente são paradas nos dias de hoje, imaginem a mais de trinta anos atrás!!.  Então, lhes peço que usem o imaginário e tentem visualizar o quão monótona era aquela pequena cidade em que os dois amigos estavam. Naqueles tempos, não raras eram as vezes em que pessoas podiam deitar imóveis no meio da rua e ficar ali por vários e vários minutos sem ter que sair, pois não passavam carros a todo momento. Naquele tórrido domingo do verão, nem se fale!  
                   Taquara não era diferente das outras cidades, por vezes, até era pior do que as outras. Mas... no calor do pós meio dia, enquanto anciões tiravam seu cochilo após o almoço, os dois amigos sonhavam acordados! Sentados no muro, solitos, continuavam à conversar. Falavam em um tom de voz baixo, até porque, com as ruas da cidade deserta, não se escutavam barulhos de parte alguma, nem os passarinhos faziam sua comum algazarra.
                     Entre um assunto e outro, por vezes, os dois amigos paravam de conversar por instantes e o silêncio tomava proporções ainda maiores! Nestes momentos, sem pronunciarem uma só palavra, contemplavam a rua deserta, sempre na esperança de ver algo relevante! Ora olhavam para um lado, ora para o outro, e nada. Na cabeça deles, os sonhos eram múltiplos, a mente de um jovem é ilimitada em termos... digamos... surreais!! Como escrevi acima, sonhavam ver coisas ou pessoas improváveis, interessante, algo novo para engrandecer seus pensamentos e poder sonhar mais e mais, o resto do dia, da semana, do mês!
                    Os sonhos mais distantes, os segredos particulares e mais íntimos de cada um afloravam naquela hora. As conversas eram francas e honestas, sem medo de serem recriminados ou tampouco contestados pelo amigo ao lado. Lembrando disto hoje, vejo como fui feliz em poder compartilhar de amigos de verdade, uma época gloriosa, e ao mesmo tempo hoje ter tantas coisas boas para relembrar. 
                    Em meio aquela prosa quase aos cochichos, de repente, quebrando aquele diálogo , ouviram um ronco alucinado, em alta rotação!!  Um ronco que os dois amigos conheciam à quilômetros de distância! Um ronco de um motor V8! Imediatamente se olharam e levantaram do muro para tentar visualizar de que direção vinha o objeto do desejo! Mas a rua em que estavam continuava deserta, atônitos, foram para o meio da rua. A oitava sinfonia de "V-tovem" se aproximava, e rápido.
                    Na época, aquela rua onde os dois amigos estavam tinham poucas casas, o chão era de paralelepípedos regulares, se chamava (e chama até hoje) Ernesto Alves. Esta, que no final da década de 60 até meados da de 70, fora palco de pegas inesquecíveis, organizados pela prefeitura de Taquara, onde corriam DKWs, JKs, Opalas, Corcéis, Simcas entre tantos outros. Para o deleite dos dois guris, naquele momento o presente tentando imitar o passado, e cortando o sepulcral silêncio, entrava de lado pela esquina adiante, sobrando muito, patinando como louco, um Dart marrom!
                    Naquele momento, os dois guris tiveram orgasmos múltiplos de felicidade!! Levantaram os braços acenando, gesticulando violentamente para o herói que estava ao volante da maravilha sobre rodas. Ao ver os dois como platéia, o suposto aspirante piloto, deu tudo que o carro podia dar. As manobras e peripécias foram múltiplas, fazendo o carro patinar muito, ladeando de um lado ao outro da rua deserta!! Em instantes, parava em frente à eles um poderoso e inatingível Dodge Dart!! Os dois guris, de boca aberta, se aproximaram totalmente embasbacados, não tinham palavras para elucidar tal cena, somente vista anteriormente em filmes no antigo Cine Cruzeiro.
                     O dodge, simplesmente imaculado, era novo na cidade. Tinha sido adquirido naquela semana, trazido do estado de São Paulo, rodando, pelo feliz proprietário! Na traseira do carro ostentava a plaquetinha da agência Chambord Auto Ltda, onde, pouquíssimo tempo antes, tinha sido comprado zero quilometro! O Dart era novo, por dentro e por fora, os pneus diagonais, as calotinhas, os estofamentos, comprovavam e davam idoneidade ao carro. No painel de instrumentos, ostentavam inacreditáveis 5700km!!
                      A felicidade estampada no rosto do proprietário era notória. No rosto dos dois guris, que tinham devaneios mentais, era um misto de contentamento e inveja (mais inveja!!), provocados pelo desejo de possuir o impossível! O motorista do bólido vangloriou-se por alguns instantes e desapareceu com o dodge, tal qual como apareceu, em alta velocidade! Saiu da imobilidade patinando muito, deixando para trás os pobres guris, involutos em uma grande cortina de fumaça, levantada pelos pneus do maravilhoso Dodge. Os dois, depois daquele sublime momento, voltaram a contemplar o silêncio daquela tarde quente de verão. Sozinhos e em silêncio novamente, porém... agora tinham novos sonhos e assunto para vários e vários dias. Os dois guris eram eu e o Ganso. (Dezembro/1978)
                     Acredito que este, dentre alguns outros, foram momentos preponderantes pelos quais o destino me direcionou  e influenciou a dedicar minha vida toda aos dodges. Fatos reais e insubstituíveis que jamais vou esquecer, por mais anos que eu permaneça vivo!

Uma das poucas lembranças que tenho do Dart! Numero bonito o serial do motor hein?
Por mais incrível que possa parecer, depois de tantos anos recebendo maus tratos, a plaqueta da Chambord Auto Ltda ainda estava intacta na tampa do porta malas!
                     
                    Nos dois ou três meses seguintes, seguidamente via o Dart no centro da cidade, imponente e belo. Passado mais alguns meses, o carro foi vendido para um cara da cidade de Parobé. Um sujeito que à época, tinha uns vinte e poucos anos. Este, usava o Dart sem pena, sempre que eu o via, estava esmerilhando o pobre Dodge.
                      Até que alguns meses depois, voltando com meu pai de uma viagem, encontramos o dart grudado em um poste de iluminação pública, na RS239, divisa dos municípios de Parobé e Taquara. O carro tinha a frente e a lateral traseira esquerda destruídas. Segundo me contaram naquele dia, o sujeito vinha em alta velocidade, se perdeu, deu de lado em um carro na rodovia, e foi de encontro ao poste de iluminação.
                       Pensei naquele momento que seria o fim do Dart, mas não! Alguns meses depois, tornei à vê-lo no centro de Taquara. Quem o tinha comprado fora um conhecido meu, que, por coincidência ou não..., tive uma conversa agora à pouco, em um bar do centro de Taquara, onde tomo café todas as manhãs. Este conhecido, trabalhava, e trabalha ate hoje, na empresa de ônibus Citral de Taquara.
                      Este ficou com o carro por uns três anos, tempo este em que eu já trabalhava com dodges. Então , naquela época, fiz alguns serviços no carro.  O Dart nem de longe, era parecido com aquele em que vi nas primeiras vezes. Acredito que no dia da batida no poste, começou o seu fim!
                       Quando este conhecido que trabalha na empresa de ônibus vendeu o carro, quem o comprou foi um colega de colégio meu, o falecido Moisés! Este, não tinha apego nenhum ao carro, trabalhava com manutenção de geladeiras e freezer. Carregava dentro do dodge ferramentas, geladeiras e tudo que é tipo de coisa que a gente nem imagina! O amigo Moisés era pobre e mal tinha dinheiro para abastecer o carro com gasolina, então, algum tempo depois, apareceu na minha oficina com um belo botijão de gás no porta-malas. Dodge sofria nas mãos do povo!!!
                       Com o passar do tempo, por algumas vezes, o Moisés trazia o dart para algum conserto. Mas sempre pedia para colocar o menos de peças novas possíveis, sempre optava pelo mais barato e somente trocar o  que porventura poderia deixar o carro empenhado. Peças que não comprometiam o funcionamento do carro, não eram para serem trocadas, e assim era feito!
                        Certa vez, em um domingo pela manhã, o Moisés foi a minha procura na casa dos meus pais. Conversamos um pouco e ele disse que o carro estava fazendo um ronco esquisito, meio forte, parecia uma sujeira trancada em baixo do carro. Disse que no dia anterior, havia feito uma viagem de Taquara à São Francisco de Paula. Tinha ido  pelas estradas do interior, que naquela época, assim como hoje, quase só passavam carroças. Que certa altura do percurso, bateu fortemente uma enorme pedra na parte de baixo do carro.
                        Bom, dei uma volta com o dart na rua lá de casa e confirmei a ronqueira. Coloquei no macaco, deitei em baixo. Tinha um buraco na caixa de câmbio por onde poderiam passar dois dedos das mãos!! Saí e lhe perguntei por quanto tempo tinha andado depois de bater o carro, ele me disse que por uns 50km!! Disse à ele que a caixa já era!! Teria que tira-la e conserta-la. Mas o custo seria alto. O certo seria colocar outra. Depois de muita conversa e sem chegar a solução nenhuma, ele me pediu que soldasse o buraco, colocasse óleo e deixasse como estava.
                        Disse à ele que não andaria muito tempo com o carro, a caixa não iria aguentar assim como estava. Mas, assim fizemos. O tempo foi passando, o Moisés andando com o Dart daquele jeito e nada de quebrar a caixa. Tinha apenas um ronco forte, não muito alto, mas forte!
                       Um ano depois, acredito que por volta de 1987, o Moisés vendeu  o Dart para meu amigo  e também falecido Plinio Kellermann, do qual já falei  a respeito em uma antiga postagem. O seu Plinio, que também não tinha muitos recursos, continuou a andar com o Dart daquele mesmo jeito, por anos e anos a fio!! E a caixa?? Não quebrou!!
                       Bom, agora nesta fase, o estado do Dart já era bem surrado, e para continuar na mesma saga, seu Plinio também de parcos recursos, o mantinha apenas para não deixa-lo na mão! Revisões, nunca!! Apenas ia à oficina quando era obrigado, por não ter outra alternativa.
Com o passar dos anos , seu Plinio ganhou uma pintura do carro em uma rifa realizada por uma pequena oficina de pintura, virou este marrom claro!
                        O tempo foi passando ate que foi chegada a hora do Dart! Um carro que me trouxe tantos sonhos no passado, chegava agora em minhas mãos, mas para morrer! No dia em que fui busca-lo na casa do seu Plinio, o carro não funcionava mais. Mas combinei com seu Plinio de que daria à ele um último suspiro, faria ele funcionar e o levaria rodando ao matadouro!! Feito isto, não sei porque, levei o Dart para oficina, coloquei-o em um canto onde não precisaria tira-lo e... deixei lá.  Por anos o carro ficou parado no mesmo lugar, não tirei dele uma peça sequer por muito tempo. As vezes chegava na oficina de manhã, olhava para ele e lembrava do tempo em que rodava garboso e elegante pelas ruas e estradas! Como pode um carro tão bom, ser tão mal cuidado e acabar assim?? Este foi o destino, não só dele, mas de milhares de dodges, infelizmente!    
                      Quando, naquela tarde de verão , sentado com meu amigo Ganso no muro em frente da casa dele, poderia imaginar que aquele lindo dodge acabaria nas minhas mãos, e daquela maneira?? Se a gente pudesse prever o futuro?? A vida é louca mesmo! Nunca poderia imaginar, caso me contassem, não acreditaria!

Tirei esta foto do blog do Museu do Dodge, me parece que este carro é de um amigo do Badolato. No dia em que vi a foto, lembrei de salvar uma cópia para esta ocasião. O Dart da postagem de hoje era um irmão gêmeo deste. 
                       Na próxima postagem  Dodge Gran Sedan 1977