sábado, 14 de julho de 2012

Dodge Dart de Luxo 1975 branco Valência

                  Alguns dias atrás estava conversando com um velho amigo, entre um assunto e outro, ele me fez lembrar de um fato ocorrido conosco à muitos anos atrás. Nós dois tinhamos ido até o ferro-velho do senhor Arsenor Homem, aqui em Taquara, para olharmos alguns carros.
                  Já contei aqui como era este ferro-velho, mas sempre vale repetir. Era tão grande que ficava entre duas ruas, ou seja, em  uma delas era a entrada principal, onde entravam os clientes atrás de peças. No outro lado, ou seja, na outra rua, era por onde entravam os carros velhos, para serem desmanchados. Eu, quando ia até lá, sempre entrava pelos fundos, onde entravam os carros velhos que eram comprados para serem picados.
                  Naquele dia, logo na entrada nos deparamos com um Maverick GT, branco, ano 74 ou 75. O carro parecia bem inteiro. Um dos para-lamas dianteiros já tinha sido tirado e estava pendurado na parede do galpão. Seguimos caminhando e cada vez nos aprofundando mais por entre aquelas maravilhas perdidas no tempo. Depois de muito caminhar, de longe, olhamos para a entrada do outro lado, vimos um Esplanada GTX, vermelho, que estava parado na entrada do ferro-velho. Fomos até lá para conferir!
                   Chegando mais perto, notamos que no para-brisa tinha uma placa de "vende-se"! Ficamos ali por alguns minutos examinando o carro e colocando centenas de defeitos, coisas de guri! O carro estava parado em uma ladeira, e nós já maldando, falávamos que provavelmente era porque não pegava fácil. Naquela época um Esplanada daqueles era até vergonhoso a gente ter!! Bom, nós só colocamos defeitos no carro, apesar de que tinha um interior bem bonito e uma pintura boa, com todos os frisos e lanternas em bom estado. O carro era bonito de ver! Na época não valia uma moeda de R$1,00, hoje , uma fortuna!!Mas... resolvemos entrar e perguntar o preço.
                  Eu já falei anteriormente sobre o ferro-velho do senhor Arsenor, e também um pouco sobre ele, mas superficialmente! Este sujeito tinha um jeitão de "ogro", um modo bem grosseiro de tratar as pessoas! Mas para quem o conhecia bem como nós, sabíamos que aquilo era só o jeito dele, no fundo era um cara bacana! Só que grosso de mais, o homem era um palanque!!!! E por vezes, o estilo de vida que levava se tornava uma coisa engraçada, muito engraçada! 
               Em seguida, entramos no ferro-velho e nos dirigimos ao escritório do senhor Arsenor. Na entrada, nós já percebemos que estávamos sendo vigiados por ele!! Ele nos espiava pela janela do escritório. Este ficava estratégicamente posicionado em uma espécie de masanino, ou melhor, uma casamata para espionar os guris indesejáveis que adentravam no local. O observatório ficava bem no meio do terreno do ferro-velho! Assim sendo, este encobria um grande estoque de peças, que por sinal, tudo revirado, misturado e desorganizado!! Provavelmente naquele local não se achava peça alguma Kkkkkkkkkk!!
                        Subimos em uma escadinha de madeira e adentramos no escritório. O velho Arsenor já nos recebeu "aos costumes". Nos disse em um tom de voz forte e alto: "-O que que "as duas" querem aqui??" E nós dois já começamos a rir. Se fosse um cara novo, amigo da gente que falasse assim, a gente até não acha engraçado, mas um gaúcho velho metido a machão como era seu Arsenor, era engraçado. E o modo como ele falava ajudava a tornar as coisas engraçadas. 
                        Aí eu disse que tinhamos vindo para olhar o Esplanada e saber quanto ele pedia no carro e tal e coisa. Fiquei uns dez minutos falando sozinho, tentando convencer à ele que o Esplanada não valia nada!! Na verdade, eu deveria ter levado uma surra naquele dia!! Bom, eu conversando e ele só olhando, analisando! Cada palavra minha, uma feição diferente em seu rosto!! E eu dizendo que o carro até estava bonito, mas também eramos sabedores que motor de Esplanada não presta, não andava nada, que bom era dodge, e que o valor comercial dos Simcas não existia e blá, blá, blá!! Ele foi "inflando", não dizia uma só palavra!! Apenas nos olhava com uma cara de cachorro louco!!   
                        Derepente, sem mais nem menos, ele ascendeu um toquinho de palheiro que tinha no canto da boca, levantou-se da cadeira e passou por nós dois abrindo caminho! Isto tudo sem falar nada!! Desceu as escadas do jirau e se dirigiu ao Esplanada, caminhando de lado, com os braços entre-abertos. Parecia um galo de briga querendo impor medo ao adversário!! Nós dois nos olhamos e resolvemos segui-lo de perto! Chegou no carro, entrou, bateu arranque e para fechar minha boca, pegou de primeira!! Assim que o motor funcionou, imediatamente ele deu um pisão até o fundo do acelerador, e soltou!! Sem mentira, ele repetiu isto umas dez vezes, pisando até o fundo do acelerador e soltando. Dava para escutar os pistões do velho V8 batendo no capô do carro. E com o motor frio??!! As rajadas do motor ecoavam à quilômetros!! Não sei como o motor do Esplanada não explodiu!! 
                         Depois deste fato heróico, desligou o motor,  saiu de dentro do carro como se fosse o presidente Ernesto Geisel e se dirigiu ao escritório!! Assim como veio, voltou! Andando de lado, com os braços entre-abertos e sem falar nada, somente fazendo uma cara de mau!! Nós dois viramos as costas e saímos de fininho. Quando pegamos nossas biciclétas, nos deu um incontrolável acesso de risos. Por muito tempo, sempre que a gente lembrava de cena, ataques de risos!!
                               Este dodge de hoje tem uma história bem resumida, nem foto tenho dele. Pois logo que comprei já fui desmanchando e pouco tempo depois não tinha mais nada do carro.
                     Era de um cliente que morava na periferia aqui da cidade. Desde que este sujeito o comprou, ele já era ruim, muito ruim e podre!
                    Eu não sei da vida pregressa deste carro, de onde veio ou seus proprietários anteriores. Até porque nesta época, um Dart era a coisa mais comum que poderia existir, e eu comprei apenas no interesse pelas peças, nada mais.
                     Seu proprietário mal tinha para abastecer o coitado. Andou com ele até o "guapo" se entregar, depois que parou, fui até lá e dei a derradeira marretada. Deve existir até hoje muito martelo, facão, pá e etc, com o metal deste aí.
                         Na próxima postagem  Dodge SE 1975 Amarelo Montego