quarta-feira, 28 de março de 2012

Dodge Magnum 1979 Bege Cashmere

                            Em janeiro passado, enquanto escrevia minha última postagem, anterior a esta que vos escrevo agora, tinha em mente parar de escrever minhas histórias, pelo menos por algum tempo. Nos subsequëntes dias, esta vontade se confirmou. Perdi completamente o interesse em seguir contando minha vida aqui. Acho que por um somatório de coisas, tanto de minha parte quanto alheias. Mas..., os dias passam, os pensamentos mudam e...sei lá! Não quero dizer que irei escrever outra postagem depois desta, mas por hora, é isto!
                             Alguns dias atrás, conversando com um grande amigo do meu passado, este me fez lembrar, com ricos detalhes, uma história da nossa turma. Entre muitas risadas, um completou detalhes que o outro não lembrava. Foi mais ou menos assim:
                            Certa vez, em um longínquo sábado do final do ano 1979, eu e minha turma de amigos estávamos no interior da Fábrica de Máquinas Max Badermann. Tinhamos passado praticamente o dia todo lá dentro, mexendo eu tudo que não podiamos sequer olhar em horário de expediente. Naquela tarde, sozinhos, nos sentíamos verdadeiros empresários de uma grande indústria.  Certo momento, cansados de "trabalhar", fomos todos para o escritório da gerência, do pai do meu amigo Alnei. Sentados lá, começamos traçar nossas metas para a noite que se aproximava.
                            Já tinhamos um plano em vista, do qual todos, unanimemente, eram de acordo!! Este, não seria a primeira vez que iriamos coloca-lo em prática, mas a ansiedade era tal qual fosse. O nosso objeto de desejo estava à poucos metros do nosso alcance, descansando em uma garagem ao fundo da fábrica: O novíssimo e recem adquirido Maverick LDO V8 1979, do avô do nosso amigo!!
                            Bom... mas... para colocar as mãos e tornar nosso desejo real, teriamos que aguardar até por volta das 21hr, talvez 21:30hr, até que o senhor Max Badermann decidisse recolher-se ao seu leito. Assim como dona Osmilda, esposa do sr Max! Mas depois de meses e meses de "campanha", sabiamos que os dois compartilhavam praticamente juntos a hora do repouso na cama.
                            Então, sentados todos nós no escritório, aguardavamos o relógio percorrer seu lento traçado. Minuto após minuto, hora após hora, a ansiedade era cada vez mais aflorada em nossos pensamentos, até que... chegou o momento!
                            Passava das 21hr, nosso amigo Alnei se dirigiu ao apartamento do prédio do seu avô, para pegar as chaves do V8. Geralmente isto era uma jogada rápida, mas naquela noite as coisas não correram exatamente como nós previamos. O apartamento dos dois tinha um acesso restrito por um elevador panorâmico, construido na própria fábrica, no qual, somente era usado pelo último andar, onde moravam.
                            O Alnei entrou no elevador e subiu ao último andar do edifício. O tempo passando e nada dele voltar. Nós, já roendo as unhas, amoitados ao lado da garagem do Maverick. Depois de uma meia hora de espera, nós já bem preocupados com o desfecho da história, nossas cabeças começavam a trabalhar e imaginar coisas!! Já imaginavamos desculpas para o nosso ato, ou tentativa de ato! Passadas quase uma hora, até que, entre as folhagens de um antigo pé de laranjeira que tinha ao fundo do edifício, apareceu um vulto sorridente, tilintando as chaves do nosso desejo.
                            Ao longo de boas risadas, nosso amigo explicava o porque da demora interminável. Disse ele que quando abriu a porta da cozinha, escutou vozes!! Eram seu Max e dona Osmilda olhando e comentando um dos últimos capítulos da novela PAI HERÓI, kkkkkkkkkkkk.  Nós tinhamos pavor de novela, mas naquela noite o Alnei nos narrou praticamente o capítulo todo!! Acho que foi naquele dia fiquei sabendo quem era o tal de Toni Ramos!! kkkkkkkkkkkk
                            Bom, agora com as chaves na mão, abrimos a garagem e deparamos com aquela maravilha sobre rodas. Parecia até que nos aguardava, para também se divertir e ganhar a noite! Abrimos o carro, e, com um enorme receio de sermos descobertos, com o carro desligado, o empurramos até a rua. Um percurso de uns 200metros. Se fosse nos dias de hoje, com certeza alguma viatura da polícia teria nos flagrado, mas naquela época...
                            Agora na rua, pulamos todos para dentro e saimos sorrateiramente!! Nas primeiras esquinas, devagar e em silêncio, depois, pé no fundo!! Se existiu um cara que não tinha pena de carro, este cara era o Alnei! E que motorista!! O melhor que já vi ao vivo. Foi o único cara que vi fazendo manobras somente vistas por profissionais. Uma delas é a de vir com o carro andando e estaciona-lo entre outros dois com um cavalo-de-pau!! Manobra especialmente linda!! Alguns meses atrás tinha uma propaganda do Reno Clio ou Sandero, (acho eu) que o cara levava uma guria para faculdade e estacionava assim quando chegava. A guria falava "UAU"!! Acho que todo mundo lembra!
                            Um permenor, mas de grande relevância, era o combustível. Mas como tudo conspirava em nosso favor, ao lado da fábrica, em um outro prédio anexo, existia uma fundição de aço! Seu Max montou para produzir peças para os motores e máquinas que a fábrica produzia. Lá tinham três turbinas enormes, cada uma do tamanho de um pequeno caminhão. Na época alimentadas com gasolina, para derreter o aço. Era lindo ver. Por várias vezes, quando colocavam aquilo para funcionar, todos nós iamos lá para olhar de perto! O barulho que fazia quando funcionava era assustador!! Parecia que tudo iria explodir! Bom, dentro dá fábrica sempre tinham alguns tonéis de 200 litros, em torno de vinte, vinte e cinco, cheios de gasolina!! Era nosso posto particular!!
                            Ganhamos a noite da cidade, livres e sem um pingo de responsabilidade. Eu, o Alnei e o Eraldo tinhamos 15 anos, o Ganso 14 e o Tiago, um pouco "menos novo", tinha 16! Andamos par quase todas as ruas da cidade, sempre com o pé em baixo, derretendo pneus. Em certa altura, fomos para Igrejinha, mas como não tinha nada lá, voltamos. Em certo momento, andando pelas ruas de Taquara, fomos abordados por duas gurias, conhecidas nossa da cidade. Estas nos pediram uma carona, queriam ir para uma danceteria na cidade de Parobé. Conversamos um pouco e decidimos levá-las.
                            As duas se amontoaram dentro do carro, no nosso colo, e partimos! Nós, que já não tinhamos nada na cabeça, com as gurias dentro do carro, queriamos nos superar, nos fazendo passar por HOMENS! Acho que somente ficou ar dentro das cabeças!!
                            Era inverno na época, acho que mês de junho ou julho, as estrada aqui do Sul geralmente são tomadas por uma incrível serração, que em determinada hora da noite, mal se consegue enxergar alguma coisa que não o capô do carro. Mas em contra partida, os irresponsáveis não enxergavam um palmo além do próprio nariz!
                            Pegamos a RS 239 em direção à cidade de Parobé, sempre de pé em baixo, em um total ato de suicídio coletivo! Por mais inacreditável que possa parecer, não se enxergava nada mais do que alguns centímetros a frente do capô. Nosso guia, eram os poucos riscos pontilhados pintados de branco no meio do asfalto!! Se tivesse qualquer carro , moto ou caminhão na nossa frente, seria morte certa!! As duas gurias, que em um primeiro momento estavam achando o máximo, começaram a se apavorar! O Alnei vendo aquilo, ao invéz de diminuir a velocidade, aumentou!! Na reta que hoje tem a fábrica das ferramentas Pandolfo, que fica próximo ao rio Paranhana, estava tomada por uma densa serração! Mal se podia ver um metro além do longo capô do Maverick, a visibilidade era zero!! Por alguns instantes, o ponteiro do velocímetro encostou nos 200Km/h!! As gurias berravam apavoradas, desatinadas!! Chegaram ao ponto de perderem totalmente a noção, nos arranharam como gatas enjauladas, usando suas delicadas unhas afiadas em uma ato desesperado pela sobrevivência!!   Com os braços abertos, colovam as mãos nas janelas laterias, achando que iriam morrer ali, naquele momento!! Quando se sentiram totalmente impotentes, começaram a chorar aos berros dentro do carro!! E nós?? Nos olhando, perplexos, sem entendermos o porque daquele desespero! O que faz o pavor??
                           Em questão de minutos, chegamos em Parobé! Nem bem entramos na cidade, as duas voaram como pássaros engaiolados para a liberdade. Não preciso dizer que elas nunca mais, mas nunca mais mesmo, olharam para nós!! Bom, nesta hora decidimos ir em frente e partir para a cidade de Novo Hamburgo.
                            Pegamos novamente a estrada e nos mandamos, conforme iamos nos afastando da cidade de Parobé, a serração foi diminuindo até que simplesmente sumiu.
                           O Alnei era um cara que realmente não tinha medo de nada, acho até que, infelizmente, o perdemos por este sentimento, ou melhor, pela ausência deste! Seguiamos pela estrada e ele simulando que as listas intercaladas brancas, pintadas no meio do asfalto, fossem cones!! Cada vez imprimindo uma velocidade maior, até que o carro praticamente perdesse a dirigibilidade. Certa vez, com um Corcel II da fábrica, quase morremos todos ao fazer a mesma coisa, com o carro totalmente descontrolado, depois de uma sequência involuntária de vários cavalo-de-pau, paramos à centímetros da guarda de uma ponte! Mas, naquele noite, foi só diversão. Muito pneu cantando e muitas risadas a bordo de um V8, zero quilômetro, novo, rasgando a estrada!
                          Alguns quilômetros depois, já bem perto da cidade de Sapiranga, em uma grande reta, de longe vimos que vinha em sentido contrário ao nosso, outro Maverick. O Tiago, imediatamente colocou metade do corpo para fora do carro, gesticulava e berrava ao outro carro que queriamos fazer pegas!!! Analisando isto hoje, nós eramos um bando de retardados!!
                            A nossa velocidade era de uns 140km/h, quando cruzamos pelo outro Maverick, vimos que era um GT de cor laranja, e também vinha em velocidade alta. Quando passaram escutamos o ronco do motor deles, era também um V8. Eles passaram olhando para o nosso carro, assim como nós fizemos com o deles. O Alnei, sem avisar, deu um enorme cavalo de pau no meio da pista, a qual, foi totalmente usada pelo nosso carro, devido a alta velocidade em que vinhamos. Em instantes, no meio daquela nuvem espessa de fumaça, arrancou no fundo, fazendo os G800 do Maverick derreter no asfalto. ( Eu pagava muito $$$ para ver uma cena destas hoje!)
                           Saímos em uma perseguissão alucinada atrás do nosso adversário, ao qual, também viram nossa manobra, aceleraram ao máximo aquele magnífico GT. Como a distância entre nós era relativamente grande, devido a velocidade em que eles vinham quando cruzaram por nós, praticamente sumiram na nossa frente. Quando nos aproximavamos de Taquara, avistamos eles! Entraram na cidade e foram para uma antiga boate que existia no extinto clube GEU. Seguimos eles e fomos para lá!
                           Quando entramos no estacionamento do clube, eles estavam recem saindo do carro. Paramos ao lado deles e descemos. Os caras não acreditaram quando nos viram. Um deles falou baixinho:"-Olha lá! Desceram 5 crianças de dentro do Maverick". Eles eram mais velhos, acho que tinham uns 30 anos, por aí! Um deles olhou pra nós e disse:"-Vocês querem se matar?? Vão pra casa!!"
                           Foi um balde de água fria nas nossas cabeças, ficamos por ali um pouco, e fomos embora, pois já eram quase 5 da manhã! Entramos na rua da fábrica e desligamos o motor do Maverick. Empurramos novamente até a garagem, recolocamos gasolina até a boca e nos despedimos do "nosso" brinquedinho!
                     
                            Este Magnum que narro a história de hoje, praticamente não tenho o que contar. Comprei ele todo desmanchado, o seu antigo proprietário o tinha largado em uma oficina para restaurar, ao qual , não sei por que motivo, mas como a grande maioria dos dodges na época, não foi concluido. Então, após uns dois ou três anos desmontado, o sujeito me ofereceu o Dodge.
                             Ele estava completo, com todos os frisos, vidros, lanternas, enfim, carro completo! Peguei ele para desmanchar e vende-lo em peças, mas algum tempo depois, acabei vendendo a carroceria com os documentos para um amigo de Porto Alegre, este iria montar o carro.
                             Pensando nesta cor hoje, lembro de ter visto apenas mais um Magnum Cashmere, do meu amigo Geraldo Rosenthal. Foram os unicos dois desta cor que vi na vida.




                           
                            Na próxima postagem, Charger RT 1978, Bege Indiano